Portugal enfrenta uma crise preocupante no âmbito da educação e do desenvolvimento infantil, evidenciada pelo caso recente de Castelo de Paiva. A escassez de profissionais especializados em áreas cruciais, como a terapia da fala, tem deixado crianças vulneráveis sem o suporte necessário para superar atrasos de linguagem e alcançar seu pleno potencial.
Em Castelo de Paiva, a situação agravou-se com a saída da única terapeuta da fala que atendia diversas escolas do concelho. Sem substituição, dezenas de crianças que dependiam desse acompanhamento especializado ficaram desamparadas. Pais de alunos afetados foram informados de que deveriam buscar alternativas por conta própria, mas o cenário revelou-se ainda mais desafiador: o sistema público não possui vagas disponíveis e as clínicas privadas apresentam longas listas de espera e são caras.
Um caso emblemático é o de um menino que, desde cedo, vinha realizando terapia na escola, apresentando avanços significativos. No entanto, seus pais foram surpreendidos com a notícia de que o atendimento seria interrompido, sem qualquer transição planejada. “Fomos avisados de forma abrupta que precisávamos buscar um profissional por nossa conta. Estamos sem saber como continuar o tratamento”, lamenta a mãe da criança.
O neurocientista e especialista em educação Dr. Fabiano de Abreu Agrela, destaca os impactos dessa falta de suporte. “Nessa fase em que a personalidade está em formação, atrasos no desenvolvimento da linguagem podem gerar insegurança e perfeccionismo desadaptativo, moldando uma personalidade para toda a vida. Isso pode desencadear transtornos mentais futuros, aumentando os gastos governamentais em saúde e assistência social”, explica.
Além dos danos individuais, o Dr. Fabiano ressalta os efeitos sociais e econômicos dessa crise. “Sem suporte adequado, as crianças enfrentam dificuldades na comunicação, no aprendizado e na integração social, perpetuando desigualdades e limitando suas capacidades como futuros cidadãos produtivos. Os custos para a sociedade aumentam exponencialmente, com insucesso escolar, desemprego e dependência de sistemas de apoio social”, alerta.
Embora o caso de Castelo de Paiva chame a atenção, ele reflete um problema mais amplo enfrentado por diversas regiões do país. A falta de profissionais especializados em áreas como terapia da fala, psicologia e educação especial é agravada pela burocracia, que dificulta a entrada de novos talentos no mercado. “Portugal tem muita burocracia. Perdemos excelentes profissionais devido à meritocracia exigida no percurso escolar e à dificuldade de revalidar títulos de estrangeiros. Conheço bons profissionais de outros países que viriam para Portugal pela qualidade de vida, mas desistiram devido à burocracia”, critica o Dr. Fabiano.
A crise em Castelo de Paiva e em outras localidades de Portugal evidencia a urgência de políticas públicas eficazes. Soluções como a contratação de mais profissionais, a flexibilização de processos burocráticos e parcerias entre o setor público e privado são fundamentais para garantir o desenvolvimento das crianças. “Investir em terapias precoces não é apenas uma questão social, é uma estratégia para o futuro do país. Reduzimos desigualdades e formamos uma sociedade mais qualificada e resiliente”, conclui o Dr. Fabiano de Abreu Agrela.
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